23 de outubro de 2013

A Psicomotricidade no Ambiente Equoterápico

O artigo é resultante da observação das relações da Psicomotricidade e da Equoterapia durante a prática profissional como Fisioterapeuta e Equitador da Equipe L&M Equoterapia, nos últimos dez anos.O objetivo do presente artigo é ampliar a visão das possibilidades de aplicação dos conceitos da Psicomotricidade na prática da Equoterapia, fundamentando-se na metodologia de contextualização das práticas terapêuticas. Leia em "Mais Informações" ...


A Psicomotricidade segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999) “é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento em relação a seu mundo interno e externo bem como suas possibilidades de perceber atuar agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo”.


Entende-se a Equoterapia como sendo uma abordagem terapêutica que envolve o universo eqüestre, e deve ser pensada de forma interdisciplinar ou transdisciplinar, ofertando ao praticante um ambiente de atividades pluri-sensoriais. Segundo a ANDE (2009, p.11), nesta atividade, “o sujeito do processo participa de sua reabilitação, na medida em que interage com o cavalo”.

No campo da pesquisa, vários artigos e publicações indicam os benefícios aos praticantes, da aplicação da psicomotricidade na Equoterapia, apresentando em seus resultados melhoras no equilíbrio, coordenação, atenção entre outros ganhos psicomotores.

Sendo assim, surgiu uma reflexão a respeito da possibilidade da aplicação contextualizada dos conceitos Psicomotores no ambiente da prática da Equoterapia.

Para o MEC (1998), contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto. A contextualização visa dar significado ao que se pretender ensinar ou desenvolver, fazendo com que o aprendiz sinta necessidade de adquirir um conhecimento que ainda não tem.
Marinho (2005, p.16) contribui que:

As experiências são vividas dentro de um enquadre, ou seja, um quadro de formação com princípios específicos, que pela sua existência, permite que sejamos livres para agir.

Desta forma, surgem duas situações distintas: 1) aplicar os exercícios de psicomotricidade, de forma sistematizada, durante as sessões de equoterapia; e 2) facilitar ao praticante da Equoterapia o desenvolvimento psicomotor em situações reais e livres no ambiente equoterápico.


OBJETIVOS

Objetiva-se neste artigo demonstrar que a contextualização da psicomotricidade na equoterapia promove resultados mais significativos para o praticante. Para isso, faz-se necessário reconhecer os aspectos psicomotores necessários ao convívio no ambiente equoterápico, e evidenciar as atividades psicomotoras funcionais e contextualizadas ao universo equestre, fomentando uma aprendizagem significativa para o praticante da equoterapia.

A exploração deste universo tem por base a contextualização das atividades terapêuticas, educacionais e esportivas a serem realizadas com pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Equoterapeuta conhecedor dos conceitos psicomotores precisa organizar suas atividades terapêuticas de modo a explorar todas as possibilidades geradas pelo rico ambiente equoterápico, permitindo ao praticante vivenciar as ações envolvidas com a prática da equoterapia para que inconscientemente ele possa construir suas estratégias psicomotoras.

Para Haehl (1994), a “equoterapia pode ser considerada, também, um parâmetro de controle ambiental para ajudar na reorganização de um movimento levando a novos padrões de movimentos coordenados”. (apud Freire, 1999 p.31)

Shepherd (1995) corrobora afirmando que, “o ambiente exerce importante papel na modulação do desempenho motor”.

Neste ambiente é possível ao Equoterapeuta utilizar-se não só do dorso do animal, mas também valer-se de inúmeras situações para desenvolver e estruturar conceitos psicomotores, tais como o desenvolvimento da coordenação motora, do esquema corporal, dominância lateral e estruturação espaço-temporal.

As atividades necessárias a prática da equoterapia exigem dos praticantes habilidades psicomotoras para serem executadas com sucesso. Habilidades psicomotoras para se aproximar, pastorear os animais, organizar os materiais de encilhamento, higienizar o animal, montar, conduzir/ ser conduzido pelo cavalo, apear e despedir-se.

Além do fato, destas atividades aproximarem ainda mais o praticante do ser central da equoterapia, o cavalo.

Freire (1999, p.32) expõe que, “é na relação com o cavalo que o praticante encontra subsídios para seu processo de reabilitação, além de ter favorecidas suas interações afetivas”.

O proposto é permitir que o praticante vivencie seu corpo ativamente em todas as situações envolvidas no ambiente equoterápico, Osório (p.48) afirma que, o objetivo da psicomotricidade “é fornecer elementos para que a criança possa construir seu desenvolvimento global, através de seu próprio corpo e da relação do corpo com o meio ambiente”. (apud Lermontov, 2004 p.20)

Para isso, valorizam-se as vivências que contextualizam os conceitos psicomotores com práticas relacionadas ao universo eqüestre e entendem-se as atividades de manejo eqüestre como fontes riquíssimas.

Estes conceitos fundamentam e sugerem a exploração das seguintes atividades no quadro abaixo:

Conceitos Psicomotores Psicomotricidade Contextualizada

Esquema corporal Técnicas de escovação e encilhamento; técnicas de equitação;

Coordenação Motora Pastoreio do animal; colocação do cabresto; ajustes da sela;

Lateralidade e dominância Lateral Ato de montar; guiar o cavalo; realização de percursos; apertar a sela;

Estruturação Espacial Organização e sequenciamento do material de encilhamento; pastoreio dos animais; exercícios e manejos equestres;

Orientação Temporal Reconhecimento do dia, horário e duração de sua prática equestre;

Processos Cognitivos Toda prática eqüestre requer a participação ativa e integral do praticante.

Conforme Ayres (1972), “O cérebro organiza as informações, de modo a dar uma resposta”. E afirma, ainda, que o indivíduo responde de acordo com suas capacidades e com o meio, sendo estas respostas ações objetivas e intencionais capazes de provocar mudanças neste meio.

Shepherd (1995) pormenoriza afirmando que “a prática de um ato constitui um pré-requisito indispensável para se adquirir habilidade na sua execução”.
O artigo transcrito, então, necessita de recorrer a um conceito educacional que possa explicar de forma mais ampla suas reais motivações.

De acordo com Duk (2006):

O profissional ao preparar uma atividade tem que pensar em muitas estratégias, para que o ensino seja eficaz e o aprendizado tenha êxito. Um aspecto do ensino que merece atenção é como planejar as atividades que tenham sentido para os alunos, a fim de que compreendam o propósito do que estão fazendo. Assim, os alunos não só ficam mais motivados para aprender, mas obtém maior aproveitamento no processo de aprendizagem.

Ainda, segundo a autora, “sempre que os alunos possam aplicar concretamente o que aprendem, eles terão melhor lembrança e sentirão maior interesse em aprender”.


CONCLUSÃO

A psicomotricidade é uma ciência que enxerga o ser humano como ser capaz de atuar e agir com os objetos, com os outros e com sua própria realidade.
São sabidos os resultados que o contato com o cavalo, ser de nobreza irrefutável, traz ao praticante, seja através de seu dorso, seja pela participação de atividades que envolvam a prática eqüestre.

Entretanto, as relações entre a Psicomotricidade e a Equoterapia necessitam de maiores estudos e pesquisas sobre seus benefícios e possibilidades terapêuticas.

A abordagem pretendida neste artigo não substitui nem tão pouco suprime outras práticas equoterápicas, mas tem a intenção de complementar as abordagens já aplicadas e enriquecer o contexto terapêutico da Equoterapia.

Assim sendo, busca-se no ambiente equoterápico uma abordagem que por si permita que a contextualização dos conceitos da psicomotricidade faça-se em atividades necessárias, baseadas em experiências concretas e reais do convívio eqüestre, para que o praticante tenha uma aprendizagem mais significativa e com uma finalidade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYRES,A.J. types of sensory integrative dysfunction among disbled leaners. American Journal of Occupational Therapy.1972.

ANDE-BRASIL, Associação Nacional de Equoterapia. Definição de Equoterapia Disponível em: Acesso em: 2009.

BRASIL. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasil: MEC/SEF, 1998.

DUK. Cynthia. Educar na Diversidade: material de formação docente. 3ª Ed. Brasília : MEC, SEESP, 2006
MARINHO, H. Psicomotricidade e suas interações – Rio de Janeiro: Atlântica, 2005.

FREIRE, H. B. G. Equoterapia: teoria e técnica: uma experiência com crianças autistas – São Paulo: Vetor, 1999.

LERMONTOV,Tatiana. A psicomotricidade na equoterapia. Idéias e Letras. São Paulo, 2004.

SHEPHERD, Roberta B. Fisioterapia em pediatria. 3ª Ed. São Paulo: Santos,1995.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Definição de Psicomotricidade. Disponível em: . Acesso em: 2010


Masiero, L.H.C
Prof. Luciano Henrique Cruz Masiero

Fundação Educacional de Além Paraíba