10 de abril de 2012

A Saúde Mental do Cavalo de Equoterapia


Obrigados a permanente estabulação nos centros de equoterapia mal preparados técnicamente, o aborrecimento provocado pela ociosidade é péssimo companheiro e acaba provocando danos ao comportamento psíquico do animal. As mudanças psicológicas que podem acometer os cavalos confinados ocorrem principalmente com o aparecimento dos vícios. Por isso, a avaliação da saúde mental deve ser feita diariamente pelo responsável mais direto, observando a freqüência e a intensidade com que os vícios ocorrem. Os principais vícios que podem ocorrer com os estabulados e que são sintomas de distúrbios comportamentais são a aerofagia (engolir ar), coprofagia (comer fezes), morder as paredes divisórias ou cochos, irritabilidade excessiva, birra de urso (movimento pendular do pescoço e da cabeça), má vontade de trabalhar e, eventualmente, maior agressividade. Leia em "Mais Informações"



No momento atual a equoterapia sofre um processo de ajustes à nova realidade econômica, e os novos "homens de cavalo" preferem construir centros ou adequar antigos haras à nova realidade, diminuindo seus plantéis através de criteriosa seleção, introduzindo programas nutricionais condizentes . Essas mudanças aproximam muito mais o homem do cavalo e, se não forem obedecidas técnicas adequadas, o aumento do artificialismo pode provocar graves prejuízos à saúde mental do cavalo.

 
Alimentação
 
Entre todos os fatores que predispõem os estabulados a apresentarem os vícios, depois da ociosidade, a alimentação tem talvez a maior importância. Indevidamente alimentados com certeza terão distúrbios comportamentais. Quando estabulados, os animais podem estar em diferentes níveis de treinamento e, portanto, de exigências nutricionais diversas. 

Os poucos trabalhados (2 ou 3 vezes por semana) devem receber mais alimentos volumosos, de preferência os fenos, do que alimentos concentrados (rações comerciais industrializadas). 

Calcula-se que nessas condições os cavalos deverão receber cerca de 1,5 % do seu peso em feno e no máximo 0,8 % de rações por dia, ou seja: um cavalo de 500 kgs deveria receber de 7,5 a 8 kgs de fenos e, no máximo, 4 kgs de ração por dia. É preferível mantê-los com mais cobertura de costelas do que muito enxutos, pois esta condição física induz ao temperamento nervoso. 

O inverso ocorre quando o cavalo trabalha diariamente, quando deverão receber cotas maiores de concentrados e menores de volumosos e precisam estar mais enxutos do que obesos. Muita comida para os que trabalham pouco, ou pouca para os que trabalham muito, são condições que predispõem ao desconforto, à obesidade e à ocorrência de distúrbios intestinais. 

Outra característica importante em relação à alimentação diz respeito aos níveis de nutrientes que os estabulados devem receber. Os em intenso ritmo de trabalho gastam mais energia e eletrólitos do que seus vizinhos que se exercitam menos. 

O gasto energético durante os exercícios varia enormemente. Um cavalo trabalhando em galope curto gasta 10,00 Kcal/Kg de peso hora, enquanto que em galope alongado este índice aumenta para 40,10 Kcal/Kg. As exigências protéicas variam muito pouco e, por essa razão, as rações comercias para a performance não precisam ter mais do que 12 ou 13% de proteína. Outra sensível diferença é a perda de eletrólitos pelo suor. 

A variação pode ser muito expressiva, de acordo com a intensidade do trabalho realizado por cada animal. Se não forem suplementados satisfatoriamente em suas necessidades de reposição de elementos como cálcio, fósforo, sódio, potássio, cloro, manganês, ferro, zinco e cobre, a falta destes elementos induz a um grande desconforto e, conseqüentemente, ao aparecimento de vícios, principalmente a coprofagia e a geofagia (comer terra). 

Quando em liberdade, o cavalo gasta de 13 a 15 horas por dia se alimentando, sempre em pequenas porções. Quando estabulado, o tempo que emprega comendo é, no máximo, de 6 horas. Essa diferença demonstra a influência da estabulação sobre o tempo livre que o cavalo deverá preencher com alguma outra atividade. Calcula-se que para o cavalo consumir 1 Kg de feno gasta 30 minutos. 

Quando o feno for umedecido, gasta 20 minutos. Para comer 1 Kg de aveia ou milho quebrado, gasta apenas 5 minutos. Com essas informações é preciso criar um programa nutricional de forma a se aproximar ao máximo da condição de vida livre com plena liberdade. Hoje estuda-se a introdução de comedouros automáticos com "timer" ajustado para fornecer de 6 a 12 refeições por dia; fenos enriquecidos para atender os estabulados que trabalham pouco, dispensando assim os concentrados; o oferecimento "`a vontade" de volumosos de baixo valor nutritivo a fim de atender à condição intestinal e mastigação mais freqüente, sempre com o objetivo de preencher as horas livres e diminuir a angústia e o aparecimento de vícios. 

Atividades

Os novos programas de distração física para preencher o tempo livre e não torná-lo ocioso têm enfatizado que, além das atividades já conhecidas como o trabalho montado, o trabalho na guia, redondel livre, trabalho puxado, piquetes de recreação e relaxamento, deve-se incrementar o contato mais intenso e demorado do equitador e da equipe com o animal, repetindo a higiene diária das baias e a escovação dos pelos (massoterapia) 2 a 3 vezes por dia. 

Homem

O comportamento de todos os homens envolvidos com o dia-a-dia dos animais estabulados tem grande influência sobre o comportamento psicológico e seu conseqüente bem estar. Assume maior importância aquele que passa mais horas em contato com o animal, porque além de fornecer os alimentos, realiza a higiene diária e, dependendo de sua devoção ao trabalho, sua companhia torna mais suportável a solidão que acomete tantos cavalos confinados. 

A agressividade e o medo dos animais é diretamente proporcional à falta de carinho, rispidez, grosseria, voz alta e movimentos bruscos e violentos que o tratador, por ignorância, falta de preparo ou mesmo incompetência, demonstra. A preparação dessa importante mão-de-obra precisa ser contínua, profissional e todos os envolvidos devem ter consciência da relevância e importância de seu trabalho para o bem estar e desenvolvimento dos animais. Na escolha desses profissionais é preciso que transpareça, a todo momento, que ele goste realmente de cavalos. 

Essa é a única característica que não se aprende na escola. Em termos gerais, a angústia mental do cavalo estabulado decorre dos seguintes fatores: Falta de espaço, excesso de calor e pouca ventilação, cama suja e úmida, mudança na alimentação, incompatibilidade com vizinhos, ataque de insetos, desconforto da dor, vizinhos que apresentam vícios, stress de treinamento e falta de carinho do homem.Qualquer destes fatores e, logicamente, a combinação de quaisquer deles deve, radicalmente, ser evitada para que os cavalos possam se sentir bem e, conseqüentemente, retribuir abundantemente cada cuidado recebido daqueles que deles zelam carinhosamente.