26 de janeiro de 2012

Cólica : causas e tratamento

Cólica é uma manifestação de dor visceral abdominal considerada como um dos principais problemas na clínica equina. A causa para a dor abdominal, em sua maioria, é proveniente de distúrbios digestivos, e outra pequena parte ocasionada por distúrbios em outros órgãos, tais como ovário, fígado, baço, etc, que desencadeiam a síndrome da cólica. As dores que aparecem de maneira geral são devidas a um aumento de pressão na luz intestinal, de alteração de posicionamento das alças ( que podem levar a um aumento de pressão secundária ou trações), contrações espásticas ou de alterações inflamatórias do tubo digestivo. Essas situações anormais podem, do ponto de vista patogênico, ser causadas por uma inibição da passagem (obstruções) ou fermentações indesejadas (gases, ácido ou toxinas).  A cólica equina normalmente leva a um quadro de insuficiência circulatória aguda, denominada choque, secundária à isquemia intestinal e endotoxemia. Numa classificação mais simples, o abdome agudo pode ser nomeado topográficamente em gástrico ou intestinal. Leia em "Mais Informações "

O estômago do cavalo ocupa apenas 8% de todo o trato digestivo, com capacidade para 10 a 15 litros, ou seja, ele está anatomicamente preparado para receber poucas quantidades de alimento várias vezes ao dia, não esquecendo que trata-se de um herbívoro que precisa de alimentação rica em fibras de boa digestão. 

Além do mais, o duodeno do equino é aderido ao cólon maior, o que atrapalha um pouco o trânsito intestinal. Com o aparecimento do homem na vida dele, muita coisa mudou, principalmente seu hábito alimentar, e essas são as principais causas de cólicas : o manejo e a anatomia equina. 

Normalmente em hípicas e jockeys, a ração é oferecida ao cavalo 3x ao dia ou ainda, 2x ao dia numa quantidade de aproximadamente 12 litros de ração, no restante do dia ele não recebe mais nada e fica fechado em uma cocheira de 4 x 5 m. Isso faz com que alguns animais tenham uma certa ansiedade e comam de uma maneira muito rápida, neste caso o piloro se abre quando o estômago está repleto e o alimento mal digerido caminha para o intestino, podendo desencadear cólica por impactação e até mesmo haver formação de enterólitos. 

Também a falta de exercícios é outro fator que leva o animal a um quadro de cólica. Torções e intussucepções ocorrem devido a uma desarmonização na fisiologia normal do intestino. 

Basicamente as causas de cólicas são: Distensão de alça com gás, fluido ou ingesta (Timpanismo); Tração da raiz mesentérica (Trombo embolia) ; Isquemia ou infarto ( Torções ou enterólitos que causam obstrução); Úlceras profundas no estômago ou intestino. 

Observação muito importante deve ser feita no que diz respeito à distensão de alça intestinal: quando ocorre tal distensão, a alça comprime a bexiga e o animal assume uma postura de urinar, erroneamente, práticos diagnosticam como cólica de rim e desastrosamente administram furosemida, isso poderá ter um triste fim se o cavalo tiver um enterólito e precisar ir para cirurgia. O líquido eliminado com o lasix é de extrema importância para o cavalo.

A cólica pode ser classificada quanto à dor em : aguda ; crônica, quando existem dores persistentes que incomodam o cavalo e ocorre a cólica ; e recorrente, onde a dor não é constante, vai e volta até que em um dado momento surge a cólica, como exemplo, o encarceramento nefro esplênico. 
Outra classificação é quanto ao tipo de cólica, e pode ser descrita desta maneira:

a) Obstrução simples : enterólitos, impactações, parasitas

b) Obstrução estrangulante: torções, vôlvulos, intussucepções

c) Infartos não estrangulantes : êmbolos

d) Infecções ou enterites : peritonite, duodeno jejunite proximal

e) Timpânicas: fermentações gástricas

f) Ulcerativas : úlceras gástricas ou intestinais

                                  O Tratamento

O manejo médico da cólica baseia -se em cinco princípios fundamentais : analgesia ; restauração da hidratação ; balanço eletrolítico e ácido básico ; tratamento da endotoxemia e septicemia ; regulação da motilidade e trânsito gastrointestinal. A analgesia varia de acordo com a gravidade da cólica, com a simples descompressão, passando uma sonda, pode se aliviar a dor de um animal com cólica por fermentação gástrica, ou caminhar com o animal ajuda a evitar que ele se machuque rolando de dor ou mesmo que provoque torções intestinais. Alguns acreditam que colocando o animal em um trailer e o “sacudindo” possa proporcionar um certo conforto abdominal. 

Enfim, algumas drogas são utilizadas com a finalidade de diminuir a dor do animal, são elas: AINE’s, SEDATIVOS, a 2 AGONISTA, ANALGÉSICOS OPIÓIDES, ESPASMOLÍTICOS.

AINEs ( bloqueiam a Cox) :
 
Flunixim meglumine: Bloqueia a produção de prostaglandina por 8 a 12 horas, é um potente analgésico e tem ação no combate a endotoxemia, mas possui a desvantagem de manter o fluxo sanguíneo normal para a alça obstruída e estabelecer o retorno da motilidade, ou seja, mascara o raciocínio clínico. Sua dosagem varia de 0,25 a 1,1 mg / kg IV ou IM ; é aconselhável em casos de cólicas de origem inflamatória (enterite anterior, peritonite)
 
Fenilbutazona: Não é um analgésico tão forte como o flunixim meglumine, porém não atua sobre a motilidade intestinal. É contra indicada em cólicas ulcerativas. A dose recomendada é de 2,2 a 4,4 mg / kg IV
 
Dipirona : É um excelente anti térmico, também possui efeito anti espasmódico, mas sua analgesia dura no máximo 30 minutos. A dose é de 10 mg / kg IV ou IM.
Dentre os AINEs é recomendado por precaução que se administre sempre de início a droga com menor atuação analgésica, para que os parâmetros não fiquem mascarados e levem o clínico a ter uma falsa posição de normalidade fisiológica. É melhor que seja avaliada progressivamente a evolução do caso, do que se tirar totalmente a dor do animal.
 
SEDATIVOS

Xilazina : Possui um efeito potente sobre a motilidade intestinal dura cerca de 2 horas e a dose varia de 0,2 a 1,1 mg / kg. A desvantagem de se usar esta droga é que além de alterar os sinais clínicos, possui efeito prejudicial em animais chocados, assim como a romifidina;

Acepran : também tem efeito sobre a motilidade intestinal e fazem hipotensão.

OPIÓIDES

Butorfanol: é bem aceito pois não altera a motilidade intestinal, isso evita confusões no raciocínio clínico. Seu efeito cessa a cólica por um curto período e nào afeta o sistema cardiovascular, por este motivo é considerada uma boa droga pré-operatória. A dose recomendada é de 0,02 a 0,1 mg / kg.
 
Morfina: É deletéria, pode ser associada à xilazina

CÓLICAS ESPASMÓDICAS
 
Outro tipo de cólica que possui uma fisiologia diferente das demais e consequentemente um tratamento diferente, é a cólica espasmódica, ou seja cólica por aumento da motilidade intestinal. Neste caso a analgesia deve ser feita através da diminuição dos espasmos , com drogas como : Buscopan, Atropina (pára a movimentação intestinal, Diazepan em casos de potros, na dose de 0,05 a 0,1 mg / kg.
 
SONDAGEM NASOGÁSTRICA
 
A sondagem tem a função não somente de retirada de conteúdo gástrico, mas também terapêtica, no sentido de administrar medicamentos através dela. É muito importante levar em consideração que só se deve fazer tal manobra quando houver motilidade intestinal. Os medicamentos utilizados são os seguintes :
 
Ruminol, 400 a 600 ml , em casos de fermentação gástrica;
 
Vaselina ou óleo mineral, 4 litros, protege a mucosa e ajuda a acelerar o trânsito intestinal;
 
Sal amargo, 0,5 a 1 kg, é catárgico e aumenta a osmolaridadae para a luz intestinal. Puxa água e aumenta o peristaltismo. É usado em casos de compactação, sendo necessária a hidratação endovenosa;
 
DSS ( dimetil sulfosuccinato de sódio), 20 comprimidos pela sonda, é um produto da linha humana com a propriedade de puxar água para a luz intestinal, também é necessária a hidratação.