29 de junho de 2010

Espádua a Dentro

A espádua para dentro é um exercício que trabalha a flexibilidade lateral e o engajamento do cavalo, desenvolvendo, ainda, o apoio e o endireitamento do cavalo. O regulamento de adestramento da Confederação Brasileira de Hipismo, no seu artigo 412, determina o seguinte: " Este exercício é executado ao trote reunido. O cavalo é conduzido com uma ligeira mas uniforme encurvação em torno da perna interna do cavaleiro, mantendo o engajamento e a cadência e, um ângulo constante de aproximadamente 30 graus. O anterior interno do cavalo passa e cruza a frente do anterior externo;as passadas do posterior interno movem-se para baixo do corpo do cavalo, seguindo a mesma pista do anterior externo, com o abaixamento de sua anca interna. O cavalo é encurvado para o lado contrário à direção de deslocamento." Leia em "Mais Informações "... 
Esta definição é para a execução do exercício em provas, onde aparece, nas reprises, ao longo do lado maior ou pela linha do meio. Porém, no treinamento diário, pode ser executado ao passo. Devido ao cruzamento dos anteriores, não é possível sua execução ao galope. No entanto, pode ser executado com uma encurvação menor nesta andadura (espádua à frente). Pode ser executado em linhas retas ou em círculo, com a garupa para fora do círculo ou para dentro (contra espádua para dentro). E, dependendo do objetivo, até mesmo a encurvação pode ser maior que os 30 graus do regulamento, o que exige mais do cavalo. Neste caso, devemos tomar cuidado para não haver perda de ritmo.
Na literatura moderna, muitas vezes é citado como seu inventor o cavaleiro francês La Guérinière, no século XVIII. Na verdade, o que ele fez foi adaptar para linhas retas o exercício que já era realizado "de baixo", ao redor de um pilar, por Pluvinel, no século XVII. É considerado o mais completo exercício que um cavaleiro dispõe para o flexionamento de seu cavalo.
Benefícios da espádua para dentro:
• É um grande exercício para endireitar seu cavalo.
• Melhora a flexibilidade lateral do cavalo, e, por consequência, a flexibilidade longitudinal é facilitada (autores como Decarpentry, Licart e Podhajsky recomendam o trabalho da flexibilidade lateral isoladamente como maneira de melhorar a flexibilidade longitudinal).
• Melhora o apoio, e melhora o binômio "perna de dentro - rédea de fora".
• Trabalha a reunião, pois, com o abaixamento da garupa, o peso é direcionado para os posteriores, também, dando, assim, mais liberdade para as espáduas.
• Desenvolve a impulsão.
Execução do exercício:
• Para iniciar o exercício, após uma meia-parada, os anteriores são direcionados para dentro pela rédea interna. A rédea externa cede para permitir a saída da espádua do mesmo lado, sendo responsável, ainda, pela manutenção da encurvatura dentro do limite desejado.
• A perna interna do cavaleiro, posicionada próxima da barrigueira, empurra o cavalo para a frente e para o lado, mantém a encurvatura e sobrecarrega o posterior interno, sendo responsável, junto com a rédea interna, pela manutenção da encurvatura.
• A perna externa, posicionada um pouco atrás da barrigueira, mantém sua posição de guarda, impedindo o posterior externo escorregue para fora da pista.
• O cavaleiro senta em equilíbrio, com uma leve predominância do peso no lado interno da encurvatura, e direcione seu olhar na direção da inflexão, isto é, entre as orelhas do cavalo.
• Durante a execução do exercício, a rédea externa é responsável por controlar a cadência e o grau de encurvatura, especialmente na base do pescoço. Idealmente, a rédea interna torna-se passiva, só atuando para corrigir uma eventual perda de encurvatura.
Problemas e correções na execução do exercício:
Execução do movimento sem encurvatura: é um dos erros mais comuns, causado por uma confusão do cavaleiro entre as ajudas para a espádua para dentro e do ceder à perna.
Perda de ritmo, atividade ou impulsão: o cavalo deve ser movido para frente, livre e enérgicamente.
O cavalo inclina a cabeça, ficando com a orelha interna mais baixa que a externa: pode ser causado por uma atuação muito forte da mão externa do cavaleiro, ou, ainda, por uma acentuada diferença na encurvatura de um lado e do outro do cavalo. A solução consiste em conduzir a mão interna mais alta, e tentar puxar o posterior interno mais para baixo, em direção ao centro de gravidade do cavalo. Se esta correção não funcionar, é bem provável que o cavalo ainda não esteja pronto para este exercício. Devemos, então, retomar o trabalho de encurvação no círculo.
O cavalo cai sobre a espádua externa: o cavalo não foi suficientemente reunido antes do início do exercício, ou a inflexão está muito dependente de uma ação forte da mão de dentro. Geralmente, uma perna interna menos ativa e uma meia-parada com a rédea externa resolvem o problema. Uma atuação mais ativa da perna e rédea de fora é recomendada.
Inflexão do pescoço muito pronunciada, incompatível com a encurvação geral do cavalo: causada pelo uso excessivo da rédea interna na manutenção da encurvatura, ou pelo não uso da rédea externa na limitação da encurvatura do pescoço. É, basicamente, um erro de ajudas do cavaleiro. Basta corrigir a atuação da rédea de fora para solucionar o problema.
O cavalo vira apenas o pescoço, e segue com o restante do corpo em uma pista: mais um erro causado pelo uso incorreto das ajudas pelo cavaleiro ou por o cavalo ainda não estar pronto para este exercício. A recomendação para o conjunto é voltar para o trabalho de círculos, até que consiga executar círculos com uma boa qualidade na encurvatura.
Como curiosidade, ou sugestão de utilização nos exercícios, vamos citar um pequeno trecho do livro "The Complete Training of Horse and Rider In the Principles of Classical Horsemanship", de Alois Podhajsky, que foi diretor, por 25 anos, da Escola de Viena, onde ele contesta a realização do exercício conforme hoje é preconizado nos regulamentos de competição, ou seja, as três pistas.
"Contrariando a teoria de La Guérenière, sustenta-se que a espádua para dentro deva ser executada num ângulo tal que o posterior interno siga a mesma trilha do anterior externo. Esta interpretação leva a uma configuração de espádua para dentro em que o anterior interno não cruza suficientemente sobre o externo. Neste caso, os objetivos do exercício - o fechamento das três articulações dos posteriores, a liberdade de movimento das espáduas, o desenvolvimento do contato com a embocadura e o aumento da flexibilidade e da obediência - não serão atingidos".
E, para finalizar este artigo, uma outra lembrança, do próprio Podhajsky:
"Ao praticar um trabalho lateral, o cavaleiro deve sempre ter em mente que são movimentos para a frente e para o lado. O movimento para o lado é facilmente obtido e percebido. O mais importante, entretanto, é manter o movimento para a frente constante e sob controle. O cavaleiro deve ter certeza que o cavalo, obediente às ajudas, move-se suficientemente para a frente. À menor percepção da perda de impulsão, o exercício deve ser interrompido com um movimento para a frente ou um círculo pequeno".