28 de maio de 2010

Aperfeiçoando o Galope

Das andaduras do cavalo, a que mais sofre na sua forma no início do treinamento é o galope. O desequilíbrio causado pelo peso do cavaleiro, potencializado pelo fato do galope ser uma andadura assimétrica, faz com que se acentuem as diferenças entre os lados do cavalo. O galope é, então, a andadura onde é mais difícil de obter o endireitamento. Leia em "Mais Informações" ...
O desenvolvimento do ritmo e a busca da cadência
Diferentemente do trabalho de transições, para o galope ou a partir do galope, que só deve ser enfrentada quando o cavalo já tiver um certo desenvolvimento nos trabalhos de passo ou trote, o aperfeiçoamento do galope deve ser trabalhado tão logo o cavalo esteja em condições de tomar esta andadura, nos dois pés, seja a partir do trote ou a partir do passo.
Nossa preocupação inicial será a consolidação da andadura em ambos os pés, com a manutenção do ritmo, fazendo com que o cavalo consiga caracterizar os três tempos da andadura, procurando, ainda, a regularização da cadência, independente das mudanças de direção. Esse trabalho inicial deve ser feito num terreno amplo, de maneira a evitar curvas bruscas. O trabalho deve ser iniciado com leves sinuosidades, e, aos poucos, ir evoluindo para voltas mais apertadas, chegando a serpentinas e "oito de contas".
A maneira mais fácil de proceder, se, por exemplo, o cavalo está galopando em linha reta no pé direito, é gradualmente dirigir o cavalo num amplo círculo para a esquerda, com um raio suficiente para impedir uma imediata perturbação da andadura. Tão logo o galope perca sua regularidade, o cavaleiro trará de volta o cavalo para um amplo círculo à direita, e continua neste círculo até que o galope à direita seja restabelecido em sua regularidade. Devemos tentar detectar os primeiros sintomas de alteração do galope, e, tão rápido quanto possível, começar o círculo à direita antes que o cavalo desuna ou mude de pé. Mas, se não obtivermos sucesso em antecipar este momento, geralmente é suficiente colocá-lo em círculo para o mesmo lado do pé original, e a andadura será reorganizada após algumas poucas passadas incorretas. O cavaleiro deve procurar interferir o menos possível, conservar-se flexível e ereto, e preservar a constância de suas ajudas. Se ele acha que o retorno ao pé original está demorando de maneira imprópria, ele deve diminuir a velocidade e progressivamente retornar à andadura que precedeu o galope (trote ou passo), e, enquanto permanece no mesmo círculo à direita, calmamente parte no pé correto, toma novamente uma linha reta e retoma o trabalho anterior.
É de grande importância que o cavalo nunca seja punido ao mudar de pé ou desunir o galope, senão teremos grande dificuldade, mais tarde, para obter as mudanças de pé no ar, e erradicar da memória do cavalo a punição que ele espera receber.
Com o passar do tempo, não será necessário fazer o círculo completo para o lado correspondente ao pé que o cavalo galopa. Para restabelecer a regularidade do galope original, serão suficientes algumas poucas passadas neste círculo, e, finalmente, apenas reorientar o cavalo naquela direção. Assim, a perturbação da andadura causada pelo contragalope irá gradualmente diminuindo, e será possível executar serpentinas de laços cada vez mais apertados, controlável para ambos os lados, ao desejo do cavaleiro.
Devemos insistir com este exercício até obtermos a perfeita regularização do galope nos dois pés, e partiremos, então, para os círculos a galope, e trabalharemos a diminuição do diâmetro desses círculos através de espirais em direção ao centro. Porém, não devemos diminuir o círculo a um diâmetro menor que a velocidade de nosso galope permita, pois, nesse estágio, só conseguiríamos fazer isso com perda de impulsão.
O êxito nesses exercícios iniciais será muito fácil de obter num dos pés de galope, e via de regra, muito difícil no outro. A exceção são cavalos com colunas muito flexíveis e já engajados por natureza, mas esses são os virtuoses. Devemos insistir no lado pior, até que a simetria seja alcançada.
Em todo este trabalho, a correção da posição do cavaleiro e sua elasticidade exercem uma especial importância. Ele deve esforçar-se para olhar na mesma direção do cavalo e evitar inclinar-se para a frente na direção do pé em que o cavalo galopa, nem deixar o outro lado de seu corpo para trás. O cavaleiro deve estar unido ao movimento. A pressão do assento na sela e dos pés nos estribos deve manter-se tão igual quanto possível. As pernas devem permanecer à mesma distância da barrigueira, simetricamente juntas ao corpo do cavalo, a quem elas devem abraçar com a mesma pressão sempre que possível.
Todos os movimentos, todos os gestos, quaisquer modificações na distribuição do peso devem ser evitadas. "Passividade elástica" e o mínimo de interferência são as metas a serem alcançadas.
Os mesmos princípios devem ser aplicados às mãos, cuja ação deve-se limitar ao mínimo necessário para produzir as mudanças de direção, procurando utilizar a influência da direção das figuras, em vez das ajudas do cavaleiro, para obter a consolidação do galope.
Na maior parte do tempo, as pernas permanecem passivas, devendo somente serem utilizadas para garantir a impulsão, com uma ação simultânea e simétrica.
As rédeas devem enquadrar o cavalo de maneira constante e leve. Uma volta para o mesmo lado do pé de galope deve ser sempre pedida pela rédea de fora, pois esta colocará as espáduas diante das ancas, e uma volta para o lado oposto ao pé de galope, por uma rédea de abertura, tão discreta quanto possível, evitando provocar, por reação, o derrapamento das ancas.
Devemos tentar não "obrigar" o cavalo a permanecer no mesmo pé de galope, porém, nossa insistência deverá mostrar-lhe o que queremos, então, sem forçá-lo, o que provocaria a desunião ou a troca de pé, permiti-lo "ir adiante" até obtermos o que desejamos.
O endireitamento
Uma vez obtida a regularização do galope, a definição de seu ritmo e a conservação da cadência, deparamo-nos com os próximo passos, ou seja, o encurtamento e o endireitamento da andadura.
O endireitamento somente será obtido em sua plenitude quando tivermos obtido um acentuado desenvolvimento da reunião, razão pela qual endireitamento e encurtamento devam ser trabalhados simultaneamente, e os progressos obtidos em cada um destes objetivos devem ser explorados alternadamente.
No galope, o cavalo não é naturalmente direito, e sua obliqüidade em relação à direção de sua progressão é exatamente a mesma em ambos os pés. Geralmente, o cavalo que é naturalmente infletido para a esquerda, por exemplo, galopa relativamente direito no pé direito. Ambos os membros de sua diagonal direita colocar-se-ão mais ou menos na linha de seu movimento. Os da outra diagonal colocar-se-ão de cada lado desta linha, mas com o posterior mais afastado dela do que o anterior. Neste caso, a curvatura natural do cavalo contrapõe-se à assimetria do galope no pé direito, produzindo um relativo endireitamento. Ao contrário, no pé esquerdo, os desvios se somam, e o cavalo fica marcadamente infletido.
O endireitamento absoluto em todo o comprimento de seu corpo não é nunca natural ao cavalo em qualquer andadura, por causa de sua assimetria congênita, mas é no galope que a curvatura é mais pronunciada, e a tarefa de endireitá-lo nesta andadura é especialmente difícil. Isso somente será alcançado com prolongados exercícios, utilizando a influência das voltas, das figuras, e, em parte, das ajudas do cavaleiro.
Ora, sabemos que, num círculo, com uma certa velocidade, que será tão maior quanto maior for o raio do círculo, as ancas mostram uma tendência de se desviarem para fora, e este desvio é acompanhado por uma maior ou menor inflexão do cavalo para fora. Então, o cavaleiro, alternando entre a curvatura do trajeto e a velocidade do cavalo, tem à sua disposição uma maneira de provocar o desvio dos posteriores e a inflexão do cavalo para um lado ou para outro, e, então, contrapor quaisquer tendências opostas.
Suponhamos, para o nosso exemplo, um cavalo infletido à esquerda. A maneira mais fácil de endireitá-lo é utilizar o círculo à esquerda, que provocará, ao mesmo tempo, o desvio das ancas para a direita e uma inflexão côncava para o mesmo lado. Com o mesmo cavalo, no círculo à direita, a velocidade deverá ser relativamente menor, e, para este lado, o exercício deverá ser praticado por períodos mais curtos e com menor freqüência.
Também certas ações de mão tendem a endireitar o cavalo infletido e assimétrico. Considerando o mesmo cavalo infletido à esquerda, podemos afirmar que a ação da rédea interna esquerda, direta, atuando em oposição ao movimento de impulsão dos posteriores, fixará as espáduas e fará a garupa deslocar-se para a direita, e isso será tão mais acentuado quanto mais rígido lateralmente estiver o pescoço, isto é, mantido mais alto. E a rédea direita, contrária, imprimirá nas espáduas uma sobrecarga que, a cada lance, as empurrarão para a esquerda, para a frente das ancas, com a garupa relativamente fixa na sua direção, e este efeito tende a encurvar o cavalo à direita.
Os movimentos circulares e as ajudas de mão podem, e devem, ser combinados de maneira a endireitar o cavalo. Assim, temos duas sugestões de trabalho para o cavalo do nosso exemplo:
- Num círculo à mão esquerda, de raio uniforme, alongar a andadura e guiar o cavalo com a rédea direta esquerda, a mão um pouco mais alta, para prevenir o encurvamento do pescoço.
- Numa certa velocidade constante, que não poderá ser muito pequena, reduzir o círculo com a rédea contrária direita.
As pernas poderiam, também, ser utilizadas para o endireitamento do cavalo, porém, qualquer assimetria no seu uso pressupõe um risco de provocar a desunião do galope ou a mudança de pé. É melhor dispensar este recurso e utilizar a ação de pernas simetricamente, apenas para manter a impulsão, quando necessário.
Os efeitos da curvatura do trajeto e das ajudas de mão, isolados ou em combinação, devem ser praticados alternadamente, e o cavalo deve ser submetido a um efeito e a outro em freqüente alternância. Deixar o círculo pela tangente vai permitir ao cavaleiro manter, por alguns instantes, o endireitamento obtido naquele trabalho, voltando ao círculo quando este endireitamento for perdido, e assim sucessivamente.
Os resultados deste trabalho somente farão efeito após uma longa e persistente prática, na qual o cavaleiro jamais deverá castigar o cavalo quando seu objetivo não estiver sendo atingido, pois isso acarretaria a perda da regularidade da andadura.
Encurtando o galope
Ao mesmo tempo que o cavaleiro se esforça em endireitar o galope, é preciso tentar seu encurtamento.
Para tal, o cavalo deve ser colocado em um galope um pouco mais amplo que o normalmente utilizado no trabalho de exterior, e, uma vez assegurados a regularidade, equilíbrio e calma nesta velocidade, trazemos, imperceptivelmente, o cavalo de volta a sua velocidade usual.
A influência de um terreno levemente em declive é muito favorável a este encurtamento. Instintivamente, o cavalo toma uma atitude que alivia o peso sobre o ante-mão, enquanto a declividade impede o encurtamento das passadas dos posteriores.
As mãos devem ser utilizadas em sucessivas ações para cima a cada lance de galope, e não em uma ação contínua. O cavaleiro deve tentar o encurtamento das passadas dos anteriores, enquanto tenta evitar, tanto quanto for possível, o precipitar do pousar dos posteriores. Ao mesmo tempo, deve direcionar seus esforços para a sistemática colocação das espáduas à frente das ancas, pois a tendência do cavalo de "atravessar-se" e infletir-se é sempre consideravelmente aumentada com o encurtamento do galope.
Em todo este trabalho, a posição, o assento e a elasticidade do cavaleiro têm uma especial importância. Ele precisa permanecer unido ao cavalo, inclinando-se para a frente somente o necessário para contrapor-se aos efeitos da inércia, e para o interior das curvas, se necessário, somente na medida exata requerida para combater a força centrífuga, sempre evitando sobrecarregar o postmão. Seu peso deve ser suportado mais nos estribos que na sela, de maneira a dar completa liberdade à coluna vertebral e ao dorso-rim do cavalo. As pernas devem permanecer passivas, simetricamente colocadas, preferivelmente mais avançadas que recuadas, de maneira a trazer os posteriores mais sob a massa que precipitar sua distensão.
Uma vez que o retorno da velocidade mais rápida para a velocidade normal do cavalo possa ser obtido facilmente em um leve declive, então no plano, e, finalmente, em um leve aclive, o cavaleiro, progressivamente tenta prolongar o encurtamento. Assim procederá sucessivamente, até atingir a velocidade desejada, seguindo sempre a mesma progressão, e utilizado da mesma forma os terrenos inclinados.
A velocidade mínima que deve ser obtida e mantida com facilidade em exterior é aquela na qual, no contra-galope, o cavalo possa galopar em perfeito equilíbrio num círculo de mesmo diâmetro da largura de nosso picadeiro ou pista, de maneira que possamos continuar esta ginástica a galope sem o temor de que nosso espaço exíguo possa causar alguma desordem no contra-galope.
O cavalo deve ser exercitado alternadamente nas mudanças de velocidade, de direção e encurvatura. O trabalho de encurtamento e o de endireitamento do galope, como já vimos, devem progredir paralelamente, e um auxiliar o outro.
Na seqüência do trabalho do galope, o cavaleiro utilizar-se-á dos mesmos procedimentos utilizados no trote e no passo, levando sempre em conta a assimetria da andadura, que algumas vezes se soma, e em outras se opõe, à inflexão permanente e natural do cavalo.
A descontração do maxilar será procurada, inicialmente, com cada rédea separadamente, e, após, com todas as combinações possíveis, até que a descontração seja obtida, suave e instantaneamente, com a mais leve pressão dos dedos nas rédeas.
O galope básico deve ser relativamente lento, mas apenas na medida em que o cavalo possa sustentar-se facilmente em todos os exercícios de picadeiro, esteja galopando justo ou no contra-galope.
Quando o encurtamento do galope estiver bem confirmado, o cavaleiro poderá dar seu toque final no completo endireitamento do cavalo nesta andadura. Para tal, continuará evitando, tanto quanto possível, qualquer interferência das pernas, limitando sua ação à sustentação da impulsão.
O "atravessamento" do cavalo será combatido tanto quanto possível fazendo uso do muro do mesmo lado, e, conseqüentemente, pelo uso do contra-galope sobre a pista. Se absolutamente necessário, a influência da parede pode ser reforçada por meias-paradas, e essas meias-paradas serão mais freqüentemente necessárias quando o cavaleiro, dispensando a parede, começar a trabalhar longe da mesma.
Uma vez assegurado o completo endireitamento do cavalo junto ao muro, o cavaleiro deve procurar afastar-se cada vez mais dele, procurando manter seu cavalo perfeitamente direito ao longo de linhas retas. Depois, numa progressão cautelosa, tentará "ajustar" o cavalo a linhas curvas, certificando-se que os posteriores percorrerão o mesmo caminho dos anteriores, sem nenhum desvio lateral.
Para obter este resultado em contra-galope, muitas vezes pode ser necessário aumentar a inflexão do galope, e, algumas outras, até mesmo forçar uma inflexão incorreta, pedindo, por exemplo, para o cavalo galopar em um círculo à direita, no pé esquerdo, infletindo-se levemente à direita.
Finalmente, por sua própria conta, sem quaisquer interferências das ajudas do cavaleiro, o cavalo deve manter sua inflexão ajustada à curvatura do trajeto que percorre, mantendo-se num determinado pé, num galope cadenciado e ritmado, sempre com vontade de alongá-lo tão rápido quanto as mãos abrem a barreira que ordena seu encurtamento temporário.

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