20 de abril de 2010

O Modelo Norte-Americano

Tal como em outros países e continentes, as primeiras décadas da Equitação Terapêutica nos Estados Unidos, também foram caracterizadas por entusiasmo, crença, dedicação e devoção assentem num corpo teórico e prático, mal estruturado e cheio de limitações. A sua prática centrava-se mais no âmbito recreativo e desportivo do que como atividade terapêutica (Spink, 2000). No século XX, nos finais da década de 1970, vários terapeutas, incluindo Barbara Glasow – uma fisioterapeuta que estudou Hipoterapia na Alemanha – começaram a influenciar, lentamente, a concepção da Hipoterapia americana (Engel, 1992, cit. in Erik, 2002) e a encarar a Equitação Terapêutica, na América, enquanto matéria científica. O modelo alemão e uma análise comparativa, conduzida em 1982 a distintas metodologias de intervenção, vieram contribuir de forma decisiva para promover a estruturação de programas de treino e de competência profissional, tanto no continente europeu como no continente americano.
A crescente exigência de programas certificados no uso do cavalo para fins médicos, psicomotores e educativos, a necessidade de credibilidade e de investigações científicas centradas na aplicação terapêutica do cavalo, tornara-se então imperativa nos Estados Unidos (Spink, 2000).

Deste modo, sustentado no paradigma dominante, o modelo foi ajustado a novas realidades. Surge a Terapia Assistida por Eqüinos, É um termo abrangente que cobre um largo espectro de atividades – que aproveitam as qualidades terapêuticas do cavalo – conduzido tanto com o paciente montado como apeado (Heine & Schulz, 2006).

É uma abordagem caracterizada por um ponto de vista holístico (a pessoa é vista na sua totalidade) e interdisciplinar, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de crianças e adultos com necessidades especiais. O cavalo, enquanto recurso terapêutico apresenta diferentes oportunidades para trabalhar de forma orientada de modo a que se possam ultrapassar problemas físicos, psicológicos (cognitivos, afetivos, comportamentais), educacionais e sociais.

Nela, inscrevem-se intervenções como a Hipoterapia Americana – comparativamente com a
Hipoterapia clássica detém um sentido mais lato, adota métodos de tratamento mais ativas e abrange um maior número de profissionais – e a Equitação Terapêutica Desenvolvimental (ETD) (Heine, 2000; Engel, 1992, cit. in Erik, 2002).

Jan Spink desenvolveu esta última técnica, no final de 1980, para fazer face aos insucessos encontrados no decurso de algumas outras modalidades terapêuticas. Assim, começou por combinar os princípios do movimento da Hipoterapia com seqüências e posições desenvolvimentais (exercícios de volteio), visando promover o desenvolvimento sensório-motor, cognitivo e afetivo de clientes que experimentavam déficits especiais nas áreas da aprendizagem, da linguagem, do comportamento, da atenção, da integração sensorial e da percepção visual.

Em 1987, o primeiro projeto desta abordagem centrou-se no desenvolvimento e na testagem de metodologias e técnicas no tratamento de clientes com perturbações ao nível do sistema nervoso central (Spink, 2000; Erik, 2002). Alguns dos elementos fundamentais e distintivos desta intervenção testemunham uma influência filosófica fenomenológico-existencial.

Define-se por: ser uma atividade individual ou de pares; consistir numa perspectiva holística do cliente, que utilizam método de tratamento simultaneamente físico e psicológico; ser uma terapia centrada no cliente; utilizar posições desenvolvimentais; preocupar-se com o desenvolvimento das relações entre o cliente, o terapeuta e o cavalo; prever um ensino seletivo de competências eqüestres; o terapeuta demonstrar um julgamento clínico rigoroso, uma formação graduada (numa das seguintes áreas: psicomotricidade/reabilitação; educação especial com treino em abordagens do movimento; educação, clínica, psicologia de aconselhamento – counseling – ou neuropsicologia e/ou técnicas de assistência social, com treino em abordagens do movimento; terapia da fala; e terapia ocupacional) e um forte passado eqüestre (Heine,2000; Spink, 2000; Erik, 2002).

A Equitação Terapêutica Desenvolvimental ainda pode ser entendida de duas formas: como um complemento à Hipoterapia ou uma fase de transição necessária entre esta técnica médica específica e o trabalho de grupo que caracteriza a Equitação Psico-Educacional e a Equitação Desportivo-Recreativa Adaptada. Assim sendo, serve como preparação para pacientes que ainda não se encontram aptos a praticar a Equitação Psico-Educacional em grupo ou a ginástica de volteio (Spink, 2000).