12 de novembro de 2009

Atividade Psicomotora Equestre

O objetivo deste trabalho é articular o estímulo neuromotor que o cavalo dá, com a atividade psicomotora em clínica de transferência, na construção da criança. O método para um lado e táticas e estratégias em atividade neuromotora do sujeito, no outro. Não há dúvidas sobre o potencial do cavalo e a equitação como geradores de estímulos sensitivos. Nossa intenção é integrar, pôr em prática, a atividade psicomotora em clínica de transferência, o terceiro corte evolutivo da atividade psicomotora com nosso método de trabalho. (Método Daniele). Desde seu início em 1900 com Jenry Wallon, a atividade psicomotora registrou três cortes evolucionários, cada um deles com suas próprias características especiais por ajudar o sujeito a integrar, corpo, gestos e posição ante os olhos dos outros, mãe, pai, terapeuta. Desta maneira, ele/ela começa construindo um conceito de corpo – corpo imaginário - corpo simbólico. Esta tática e estratégias compreendem as capacidades e incapacidades do sujeito, e constroem laços desde que numa trama de transferência. O objetivo deste trabalho é de que a criança com patologias possa reconhecer-se e existir como um sujeito no qual sua imagem do corpo está em jogo. Um modo particular de abordar um paciente, onde dois campos se encontram, o orgânico e a subjetividade, e quando eles se entrelaçam o ponto de encontro surge, que é a atividade psicomotora. Estes dois campos são representados por duas esferas que parecem estar lutando para impor seu próprio peso. Na esfera do campo orgânico estão a anatomia, a fisiologia, a patologia, e a reabilitação cinética; na esfera do campo subjetivo estão a história, os jogos, e as representações. Em um lado, a ciência empírica e as técnicas derivadas, que não podem exceder seus próprios limites, que são os de ponderar e medir, ou seja, é o campo orgânico, cuja palavra moderna parece ter mais importância. No outro lado, o campo da subjetividade, onde nós não podemos parar de nos perguntar que tipo de artifício pode medir o entusiasmo ou o tédio, o interesse ou a apatia, o prazer ou a indiferença, e a incontável quantidade de ponderações que a relação ser humano-cavalonatureza produz. E neste ponto de união aparecem algumas diferenças básicas, especialmente entre o conceito de reabilitação equestre e a restauração do termo (usado pela OMS). Na reabilitação clássica, um movimento é melhor que o anterior, o objetivo é normalizar o tom. Em nosso trabalho, o movimento é um gesto feito para ser visto pelo outro, e nós não podemos dizer que este gesto é melhor que o anterior. O mesmo acontece com nossa leitura do tom transformado em posição na estrutura do sujeito. E por esta razão que nós temos adotamos a denominação de Atividade Psicomotora Eqüestre, que implica uma modificação no conceito clássico de reabilitação, não sendo apenas um nível atingível de função ou estados, como o único parâmetro evolutivo na direção do tratamento e na relação que a transferência ocupa na etapa central. A atividade psicomotora na transferência clínica analisa a dificuldade de representar o corpo e o movimento, relacionamentos de espaço e tempo, onde o sintoma psicomotor está em vista não como o sinal de dano, mas como o resultado de um epifenômeno. Nesta clínica, a transferência vem especificamente para as exigências particulares da criança e para a sua família, que coloca o terapeuta, que representa – aquele outro – numa posição de poder em que ele ou ela não pode escolher ser ou não, está outorgada a capacidade de produzir o que está em jogo neste espaço clínico, apoiado pela psicanálise, e é onde o conhecimento corporal está representado e mais relacionado; e também ao esquema corporal, o que acontece e como curá-lo, do que à imagem física. Não há clínica psicomotora, sem corpo, sem um olhar e sem os movimentos de um sujeito; e entre o pulso do corpo e o corpo em si, entre o pulso do movimento e a operação da função motora.A presença de patologias neuromotoras implica o uso de métodos cinéticos até pelos sintomas e sinais que são visíveis em cada patologia. A maneira que eles estão localizados no sujeito responde ao singular histórico na estrutura do sujeito. Sobre o nascimento, a criança traz um equipamento básico neuromotor do sentido físico do termo que satisfará a função motora na ordem psicológica. Nós falamos de naturalidade e crescimento, que têm uma legalidade temporal. Para que estas funções se complementem, devem passar pelo campo do outro, mãe, pai, de modo que possam formar sua própria imagem, a função como criança, e a operação da função motora. Esta operação da função motora coloca prazer no movimento, pulsa, exige que o outro a estimule e erotize, move-se pelo prazer da reunião e divisão. Esta escritura pulsante de movimento cruzado pela linguagem começa a construir a imagem inconsciente do corpo e do projeto motor. Deve haver uma impressão deixada que liga com uma história o que a criança construiu e constrói, que liga a infantilidade à infância. A realização é da ordem do acontecimento, uma experiência singular, estabelecida por exemplo nas conquistas de postura. Estas não são somente um ato mecânico, são partes de cenas que os outros constroem onde ele existe como sujeito. A postura é conquistada em reunião e superações do campo do outro, é uma realização psicomotora, é espacial, temporária, o ritmo varia de uma postura para outra, o eixo do corpo será o pólo de integração das sensações cinéticas que esboçará a orientação do corpo. Até que a criança possa construir sua própria auto–imagem, as sensações são fragmentadas, não há “eu” das funções imaginárias, o sujeito será capaz de apropriar a realidade, contrariamente, o músculo será mantido fora do discurso. A area clínica apresenta-se em problemas novos e diversos: - a estrutura do corpo, a lingual e o outro; - imagem e esquema corporal; - a estrutura dos sintomas psicomotores; - a transferência na clínica de atividade psicomotora; - a direção da cura; - o psicomotor no autismo e na psicose. A atividade psicomotora eqüestre levanta diferenças com a prática na cirurgia. A presença de um ser vivo em cena. Qual é o seu papel em cena? Pode tornar-se uma figura importante para aquelas crianças com quem não conseguimos nos comunicar. A presença de outros operadores como suporte técnico. Qual é o seu papel, ativo ou passivo? A transferência na equitação muda o espaço de poder? Coloca-nos mais perto do conhecimento da equitação do que do terapêutico? Como podemos reverter isso? A cena é mais ampla, e em contato com a natureza os riscos são também grandes, mas as cenas são limitadas nessa área. As cenas e a espontaneidade das criações são limitadas por razões de segurança. A duração do tempo de terapia não é mais limitado às demandas da atividade neuromotora, elas são mais longas. Sobre os diferentes passos epistemológicos: Se usamos o primeiro corte, permaneceremos ancorados na figura tridimensional da montaria, manobras de controle do tom muscular, teremos uma criança passiva, algo comum para crianças. Um terapeuta ativo e um cavalo no papel de “terapeuta”.Se nos colocarmos no segundo corte, que é concentrado no tom afetivo e emocional, estaremos “bancando” a mãe, e a criança se tornará presa à afeição e ao prazer maternal de alguém que não deveria exercitar esse papel. A prática equestre somente será significativa se o que é produzido pelo cavalo, facilitado pelo caráter tridimensional da montaria, facilitando a operação da função na ausência do corpo durar e for reproduzido no solo.

Aldo Lauhirat - Argentina