24 de agosto de 2009

Estudos sobre o Andamento do Cavalo e sua Relevância para o Método Equoterapia


Ao longo da história da Equoterapia, diversos trabalhos ciêntificos foram realizados com o obvjetivo de se determinar a relevância do andamento do cavalo para a Equoterapia .
Em 1979, Woods referiu também que, quando o cavalo anda, o seu centro de gravidade se desloca em movimentos tri-dimensionais de modo similar ao do ser humano , quando caminha. Como resultados, Mackay-Lyons e colaboradores, em 1984, verificaram que clientes com esclerose múltipla e com dificuldades para deambular haviam tido progresso em velocidade e alternância de passos, quando submetidos à Equoterapia durante 9 semanas/2 vezes por semana.
"Eles tinham progredido de uma forma que nenhum método teria conseguido" disseram os mesmos autores .
Segundo Rasch,1989, a maneira como um cavalo anda é proveniente da combinação das características de conformação (altura e peso), atitude, idade e adestramento anterior. E quando aprende novas tarefas, como trabalhar em Equoterapia, específicos treinamentos do cavalo são necessários para organizar as necessárias respostas para ele funcionar como um instrumento terapêutico .
Em 1992 , na Universidade de Delaware, Fleck defendeu tese de "master" sobre os mecanismos do caminhar humano e do cavalo. Ele usou um filme d 16 mm para comparar os movimentos pélvicos normais de 24 crianças normais, enquanto caminhavam ao passo normal e enquanto, ao lado, um cavalo andava ao passo habitual. Ele encontrou que o deslocamento linear das pelvis das crianças durante o caminhar e ao andarem a cavalo, eram diferentes em magnitude nas não , nos movimentos, nos tempos e nas seqüenciais organizdasa. Isto é, os tempos e as seqüências dos passos do ser humano e do cavalo são similares, mas não a magnitude, em parte, porque o cavalo é um animal muito maior.
Freeman em 1992, usou um tipo de análise cinemática quantitativa para medir os movimentos da pelve de um cavalo ao andar ao passo. Suas medidas revelaram o seguinte: A pelve do cavalo se move em 3.92 graus no plano sagital, 6,98 graus no coronal e 9,08 no transverso. Estas medidas dos movimentos pélvicos do cavalo são achados semelhantes aos parâmetros encontrados por Perry e Sutherland para os movimentos pélvicos dos homens adultos.
Sutherland, em 1980, analisando 186 crianças normais, achou que havia deslocamentos pélvicos medindo de 2 a 3. 5 graus no plano sagital, 10 graus no plano frontal ( 5 graus no início do movimento e 5, no final) e aproximadamente, 20 graus no plano transverso (10 graus de cada lado, em relação ao plano frontal).
Além da similaridade dessas comparações e movimentos, a cadência dos passos do cavalo são muito similares à do homem A média de passos do homem é aproximadamente de 110-120 / minuto e um cavalo grande caminha à uma velocidade de 100-120 passos por minuto, (segundo Barnes, 1993). Durante uma sessão de Equoterapia de 30 minutos, o cavaleiro será exposto e terá oportunidade de desenvolver diversas habilidades motoras. Segundo, Whamem 1992, um cavalo que ande na velocidade de 110 passos por minuto, terá a oportunidade de dar 3.000 passos durante a sessão. Isto proporcionará ao cavaleiro centenas de deslocamentos específicos para se manter na posição montada adequada, equilibrando-se na linha média em harmonia com os movimentos do cavalo. Além disso, inúmeros movimentos serão transmitidos ao cavaleiro pelos movimentos multidirecionais imprimidos ao cavalo.
De acordo com Citterio, em 1982, e Riede em 1988, as metas principais da Equoterapia são: - a estabilidade postural automática em alinhamento com o centro de gravidade. E quando o cavalo começa a mover-se e a pelve do cavaleiro a mover-se com uma inclinação posterior , haverá um realinhamento do tronco sobre a pelve, a cabeça mover-se-á com uma suave flexão e os olhos tenderão a ficar na horizontal. Esta é uma posição funcional que leva o cavaleiro a se adaptar aos movimentos do cavalo e interagir com o ambiente.
O estudo por partes de movimentos conjugados entre cavaleiro e cavalo é essencial para que se aplique a Equoterapia:
1. Guiar o cavalo por uma linha longa e reta é o objetivo inicial do tratamento. Isto provocará no cavaleiro, movimentos de flexão e extensão. Isto facilita o controle de tronco e os movimentos da pelve para frente e para trás ao acompanhar os movimentos do cavalo, com transições entre impulsos fortes e fracos, alongando e encurtando o passo do cavalo. Para um muito bom controle de flexão/extensão do cavaleiro, as transições entre o andar-parar-andar do cavalo são muito empregadas .
2. Os movimentos no plano frontal auxiliam para as flexões laterais do cavaleiro. Serve para ele alongar e encurtar a sua musculatura do tronco. As atividades de encurtar e alongar o passo do cavalo servem para os deslocamentos do peso do cavaleiro montado. Ao guiar o cavalo em curva, haverá um aumento nos movimentos de rotação da sua pelve. E segundo Citterio (1985) estes movimentos do cavalo facilitarão as flexões laterais da pelve e do tronco do cavaleiro. Se o cavalo andar em círculo, o cavaleiro inclinar-se-á para o lado externo da curva por causa do impulso da força centrifuga aplicada nele. Ele experimenta um deslocamento do peso para fora da linha média, que o faz alongar o tronco desse lado e contraí-lo do outro lado. O deslocamento do peso do cavaleiro auxilia o cavalo a andar ao passo por facilitar-lhe os movimentos de trocas de patas. É o mesmo que acontece com o cavaleiro ao andar a pé .
3. Curvas suaves podem ser combinadas com mudanças de direção do cavalo para incrementar a alteração do peso do cavaleiro através da linha média (lombo do cavalo) e provocar flexões laterais de um lado para outro. Quanto menor e mais fechada a curva provocará mais movimentos do cavaleiro, porque o componente rotacional do movimento do cavalo torna-se-á maior. Os movimentos rotacionais na pelve e no tronco do cavaleiro podem ser incrementados com os movimentos laterais do cavalo. O cavalo movimenta-se para a frente com distintos movimentos em diagonal (à direita e à esquerda) ao andar ao passo principalmente e as suas flexões laterais são percebidas como rotacionais pelo cavaleiro, porque a anca do cavalo e os quadris do cavaleiro formam um ângulo de 9O º graus entre essas estruturas .
4. O cavalo deve ser conduzido ora com passos largos, ora com passos curtos, e com alterações de velocidade, porque isso proporcionará ao cavaleiro, necessidades de controle de tronco e equilíbrio na direção anterior e posterior. Em todos estes movimentos durante a sessão de Equoterapia, o cavaleiro é ativamente, estimulado e reage com retificações posturais automáticas (inconscientes) e sem relações corticais cerebrais, segundo Citterio,1985. O cavaleiro, apesar de ter uma participação nessas atividades de forma inconsciente, nada impede que o instrutor reforce informações e solicitações para correções volitivas ou cognitivas sobre como montar bem. Schimidt,1988, afirma que o cavaleiro passa a prever, a antecipar e a seguir mecanismos de ajustes posturais a cavalo.
5. Assim, a chave para se entender os efeitos dos três componentes dos movimentos do cavalo ao passo é necessário compreender-se o valor deles sobre o cavaleiro .
1º) As aceleração / desaceleração dos movimentos do cavalo influenciam inclinações anteriores e posteriores da pelve e do tronco do cavaleiro. Quando o cavalo realiza a fase acelerada do movimento do passo (levantando e movendo membro posterior para a frente), a pelve e o tronco do cavaleiro se deslocam, inclinando-se para trás e quando o cavalo firma o membro posterior no solo na fase de desaceleração, o cavaleiro inclina a pelve e o tronco para a frente.

2º) No momento em que o cavalo realiza um movimento de rotação da anca ao trocar os membros posteriores, o cavaleiro realiza um movimento de flexão lateral da pelve.
3°) O terceiro movimento componente do passo ocorre quando o cavalo realiza a fase de elevação e deslocamento para a frente do membro posterior, o que provoca uma flexão do seu tronco. Este movimento produz rotação do tronco e da pelve do cavaleiro.
Estes movimentos do cavalo produzem no tronco e pelve do cavaleiro: rotação anterior da pelve, deslocamento para frente e flexão lateral, quando os membros do cavalo agem diretamente sobre ele ao se deslocarem. Até hoje, nenhum aparelho foi inventado ou construído para replicar, com perfeição, os movimentos tridimensionais e multidirecionais do cavalo sobre o cavaleiro .
Segundo Engel, outra idéia importante em Equoterapia, é entender que uma pessoa montada num cavalo não é um simples passageiro. Ela deve guiar o cavalo e fazê-lo andar em variadas direções e velocidades, pois os movimentos rítmicos do cavalo e suas influências são considerados os principais fatores da Equoterapia .
(José Torquato Severo é médico neurologista, professor universitário,Mestre em Educação e Cel Cav R1 do Exécito)